terça-feira, março 06, 2007

Dói-me a alma, meu corpo está a ser conferido

dói-me a alma
não encontro calma
é um mal estar perturbante
que me deixa inconstante
deambulo pelo meu espaço
vejo tudo escasso
penso em algum embaraço
e continua a ser o meu espaço
sinto-me cansada e vestida
o que deixa a minha pessoa "contida"
assusta, sentir-me perdida
sabendo que me dói a vida
não me deito, não quero sentir-me num catre
e sentir que me embate
não avisto um fim da estrada
não se faz luz, não ajuda nada
só que é de dia, o sol não insistia
mas até um cego mostrar-mo-ia
uma auto-análise: não é histeria
visto de fora, ninguém diria
preferia estar despida
tremendo e sem saída
temendo e sem guarida
talquemente alma penada
que vagueia pelo mundo do nada
porém, identificada, catalogada
sabe-se que mora no vazio
e que flutua como por um rio
e se eu não sinto o que sinto
admitamos: o mundo eu finto
ao meu choro eu minto
pois sei o que sinto:
nada... diz-me o meu instinto
e com este, eu não brinco
se a ele fujo, o meu ser jamais será distinto
e em vez de dor, sentirei o meu ser extinto
volúvel como "hermosa" botella abierta de vino rojo, tinto
infantilmente desperdiçada, tresmalhada
e no fim de idade adulta, recordada
adivinhando vestígios, de uma (dí)vida saldada
espelhada num líquido vermelho, como sangue
contudo, não exangue
pois se saldada está a vida
não deixámos nada em dívida
até lá, ou por hoje, a minha negritude está lívida
dói-me a vida, mas sinto-me menos desvivida...