sexta-feira, novembro 10, 2006

Sinto-me vazia...

Tive um daqueles dias infindáveis. Comecei-o, salvo erro, a falar sobre o sentido da vida. E, poucas horas depois, senti a vida fugir de mim. Apesar de sentir as entranhas a revolverem, dentro de mim, ao mesmo tempo, parecia um balão a esvaziar-se e a percorrer um vasto espaço, sem fim. Foi como se eu tivesse passado o dia debaixo de água, a suster a respiração, batendo todos os recordes e quando vim ao de cima, não estava lá ninguém para corroborar o meu feito. Senti o espaço à volta do meu coração apertar, ficando cada vez mais exíguo e senti o seu sangue, do coração, a vazar, lenta e dolorosamente, como azeite escorrendo das minhas veias: espesso e magoando-me. As minhas vísceras "acumularam-se" e manifestaram-se pelo meu corpo. Sentia-as por todo o lado e recusavam-se a dar-me tréguas. Agarrei-me ao meu ventre até à última. Fechei os olhos, cantei, encantei e não ouvi nenhum canto. Como eu ansiava por um canto... Já dizia um "poeta popular", há dias, "dói-me a vida." E hoje, apercebi-me disso, de que me doía a vida. Doía-me a alma. Não consigo encontrar calma, só vejo tormenta à frente e, apesar de chorar por dentro e por fora, só me apetece morder, bater, pontapear alguém. Esse alguém, contudo, tem nome. Está no topo da minha lista. Ele(a) não o sabe. Nem eu sabia que tinha uma lista. Mas hoje, assim de repente, descobri que tenho um livrinho preto. Não é tão gracioso como um Moleskine, mas tem um peso e uma força quase bíblica. Tal e qual um ex-espião que, perde a sua memória e, num acontecimento traumático, (re)descobre a sua identidade, eu, hoje, descobri a verdade: a minha vida é uma novela. E, o argumento, parece ser fraco. Mas eu, desempenho um papel essencial. E, contra factos, não há argumentos.

Vou dormir sobre o assunto.