terça-feira, outubro 17, 2006

Sexta-Feira 13

Há toda uma história ou lenda, interessante sobre "Sexta-feira 13" mas, a mim, só me interessa o meu historial com este dia da semana e do mês, que se tornou, mais do que um mero dia, num ser inanimado que nos assombra. Pelo menos aos supersticiosos... Os acontecimentos que aconteceram na minha 1ª Sexta-feira 13, ou seja, como 1ª, entenda-se a 1ª vez que passei a pensar nela como "Sexta-feira 13" e não como o dia que antecede o "Sábado 14"... :-)

Foi há 8 anos, numa Sexta-feira, 13 de Fevereiro, que a minha Mãe faleceu. E....sendo mês de Fevereiro e ano bissexto... passado um mês, no suposto (ou seja, de acordo com os rituais ou cultos da morte Portugueses e não só) dia em que faria 1 mês desde a sua morte, também calhou numa sexta-feira 13. Há dias, comentava, calmamente, ao pequeno-almoço, entre uma trinca num "crescente" e um golo de café, num hotel no Porto, que isto havia acontecido (e, no dia do comentário, tratava-se de mais uma "Sexta-Feira 13"), prontamente, alguém..."exclamou" - "Mas é óbvio que um mês depois, tinha que calhar outra vez numa sexta-feira, visto ter passado um mês..." - fossem os dias todos iguais e teria que ouvir comentários destes, todos os dias, de mês a mês... :-)

Ou seja, para essa pessoa, eu seria supersticiosa mas, acima de tudo, tenho a chamada "mania da perseguição"... Expliquem-me, então, o porquê dos "parte uma perna", "vai à merda", "tói tói", whatever... :-), quando uma simples constipação pode dar cabo de um espectáculo ou, julgo eu, uma perna partida...poderá causar mais estragos do que um simples - " Força, aí!", "Dá-lhe gás!", "Vai-te a eles" ou, "Olha, desenrasca-te, meu!". Expressões tão portuguesas e sugestivas, naturalmente, com menos ilustrações mas mais directas e claras... A menos que, as expressões anteriores tenham surgido no meio de uma troca "clara" de insultos e, para não deitar tudo ao ar, na hora H, criou-se uma nova tradição e passou-se da brejeirice ao simpático companheirismo e solidariedade... Amigos, muitos de nós andamos sobre areias movediças... Parece tudo tão claro, que estamos no caminho certo e, de repente, somos engolidos... e era uma vez...

Annyway, de facto, só em anos bissextos e, desde 1998 e já há algum tempo, obviamente, que tal não acontecia. Factos, são factos. Como dizia o outro, "É elementar, meu caro Watson". A minha 1ª "Sexta-feira 13", não me deixou nenhum trauma ou fobia, continuo a sair à rua e, tendo sido o concerto dos "Novelo Vago", na Sexta-feira 13 passada, continuo a atribuir o insucesso de tal performance "ao departamento competente"... Já na Quinta-feira 12 de Fevereiro, a caminho de 13, em 1998, ano da morte da minha Mãe, fui arrastada ou deixei-me arrastar para o cinema para ver o Titanic...e, para mim, foi uma tortura! Mas para o Cameron, o Caprio e a Winslet, até não lhes correu nada mal. Fumei o meu 1º e já quase último, cigarro da minha vida. Isso sim, foi estranho. Detestei, continuo a destestar, faz-me mal fisicamente e só o seu "fedor"(não levem isto a "peito", cada macaco no seu galho, ou, se preferirem, cada "buraco" no seu "peito"... :-) Para mim é tudo uma questão de respeito (ou seja, cada um faz o que bem entende, ou não, i.e, mesmo que não entenda, I don't care, desde que não leve todos a eito) ... Há uns que se drogam, há outros que são alcoólicos, há outros que enfernizam a vida de terceiros, e eu, nesse dia, achei que algo no meu mundo ia acabar e , como auto-punição ou auto-mutilação, fumei um cigarro... Curioso, pois foi mesmo essa a sensação, o meu pensamento.

E, como não há Sexta-feira 13 sem Sábado 14 (espero que aqui podemos todos concordar... pois eu já espero de tudo...), foi o dia do funeral, dia dos Namorados. Tão querido... o dia dos namorados! Continuo a festejá-lo, mas todos os dias... A Sexta-feira 13, dia da morte e "aniversário", estranho termo, da minha Mãe, continuo a ser por mim relembrado, como sendo o dia final de uma das pessoas que constituem a minha própria pessoa, ou seja, foi um dia em que se foi uma das várias Nina Neves mas, foi também o dia em que nasceu mais uma Nina Neves, tendo permitido que se transformasse em tempos, em Mansinha, depois em Nina Manso e, nos dias de hoje ou em certos lugares muito comuns, Tokitoka... O círculo não fechou, alargou...

Na minha visão relativamente alargada da vida, das minhas vidas, dos meus eus, foi crucial perceber que, mais perigosa que uma "Sexta-feira 13" que, até poderá vir a Bold no calendário, ou numa sala de cinema ou teatro "próximo de si"... é a Quarta-feira 8, o Domingo 21 ou o dia 1 de todos os meses, quando não entra um ordenado na nossa conta bancária. Ou a Terça-feira 25, último dia para concorrer à faculdade e descobrimos que nos roubaram os nossos documentos de identificação e nesse ano, não podemos concorrer à faculdade. Ou que...num belo Domingo 10, um banhista mais distraído, perdeu a sua vida numa das praias mais belas no nosso imaginário real..

Tudo pode acontecer e bem perto de nós, independentemente do dia da semana ou do mês. Nem sempre somos avisados, nem sempre temos uma senha com um número com a nossa vez. E, muitas vezes, somos chamados para assuntos que julgávamos não serem nossos, que já estariam resolvidos, ou para resolver problemas que escolhemos ignorar que existiam, ou reparamos que temos ouvido pessoas dizendo o quanto nos adoram, desesperadamente mendigando o nosso afecto e nunca lhes dissemos o que deviamos, nunca partilhámos o que por elas sentíamos, nunca tivemos coragem de as deixar partir, para mais tarde voltarem ou, sofrer, partindo nós. É que às vezes, torna-se perigoso quando certas coisas ou pessoas tentam sair das nossas mãos e nós não deixamos. Fingimos que não vemos ou reforçamos as amarras, enquanto a vida nos diz que o lugar delas não é ao nosso lado, que apesar do nosso coração lhes pertencer, porque lho demos, ele não é desejado e pede para ser livre e agarrar a oportunidade de poder vir a ser verdadeiramente amado e desejado. O sofrimento também é uma opção digna de vida. É verdade e legítimo. Mas valerá a pena? Silêncio...

Quanto ao que seria necessário dizer às pessoas, durante a nossa vida, também é uma longa história. A 13 de Fevereiro de 1998, muito tinha eu a dizer, já desde 1975... e a 12 de Fevereiro de 1998, senti que já não teria tempo para dizer mais nada, a Sábado 14, "cantei" o que, apesar de dormente, sentia e a Maio, não de 68' mas de 98', iniciei uma nova vida. Dei o grito de Ipiranga e aprendi que, mais do que um grito, são "gritos". A vida vive-se de forma única mas no plural. E que, no meio de tanta pluralidade, de tantas opiniões e opinadores, críticos e criadores, crípticos e irritadores, como é que se sabe de que lado é que está a razão? Como é que se valida, legitima, se proclama como sendo a mais acertada, uma escolha, uma decisão, uma afirmação? Quem é que está certo ou errado? E no meio deste vazio tão preenchido, que sentido faz, procurarmos deixar a nossa marca, no meio desta massa tão disforme e conforme, chamada de mundo...

Queremos todos ser "Procuradores" da verdade, há quem aja de tal maneira insistente, tornando-se inclusivo e oclusivo, ao mesmo tempo. Inclusivo porque abrange, atinge, magoa, contunde, trespassa. Porém, no seu entender, aquando da sua precoce auto-proclamação no exercício de "Procurador" da verdade (precocidade mais próxima da ejaculação precoce do que um desenvolvimento positivamente anterior à altura esperada), este é, na sua mente, expansivo, entusiasta, conhecedor, generoso, o que partilha a sua sapiência. Tal e qual um discurso de um reitor, na abertura de um ano académico... No "Harry Potter", também temos discursos de sapientes, abrindo o ano académico... Mas é pura ficção...e é escrita para todos nós, incluindo as crianças de 10 anos...

Por isso, perguntem-se, quem sou eu para dizer estas coisas? Quem são os Outros para dizerem Outras Coisas? Quem são os Verdadeiros Procuradores da Verdade? Quem é que procura saber realmente a verdade? E se, porventura procurais, a Verdade, estais procurando no sítio certo, na povoação certa? Na pessoa certa? Será que hoje, dia 17 de Outubro, tenhais algo de novo para anunciardes ao mundo? A mim? Aos teus? Ou a ti? Já se miraram ao espelho hoje? O que haveis visto: sombras, riquezas, infortúnios, novos amores, desejos incontroláveis? Uma vontade enorme de viver? Eu, sim... era crescente, a vontade de viver e ser vivida. Até quando, a vontade? Não sei... Mas hoje, é bem real. Amanhã? Continuo a não saber. Mas vou fazer por isso. Como? Talvez não procurando encontre um procurador que conheça um Procurador que procura procuradores que queiram encontrar procuradores que também procuram aquilo que muitos dos Procuradores ainda não encontraram: o sentido desta lengalenga...

"The Good and Evil, the Right and Wrong, were invented by inferior individuals, cause they need them" - The Rope, A.H

And us, what do we need? - N.M

2 Comments:

Blogger Gonçalo Franco said...

Olha... estou aqui a pensar e já sei!
Vou fazer um arquivo: cada vez que me aocnteça alguma coisa má anoto o dia em que aconteceu
passados 10 anos contabilizarei os dias da semana e do mes mais frequentes e depois digo ao mundo qual é o meu dia de má sorte :P
A minha mãe morreu no azarado dia de 15 de agosto há sensivelmente 10 anos
não me lembro dia em questão mas não foi um dia de sorte.
Ela morreu no chamado dia de nossa senhora, no hospital de santa Maria. Ela que era uma crente cristã...
É dia feriado esse... sempre me dá para ir ao alto de são joão meter flores

essa foi a minha sexta-feira 13... esse 15 de agosto

10:12 da manhã  
Blogger Tokitoka said...

Ou seja, vai sempre tudo dar ao mesmo lugar: 13+2=15... E depende de nós fazer ou não a soma, juntar os pontos. Ou,continuar a nossa vida e pensar que a sorte o azar andam de mãos dadas e que todos os dias são "sexta-feira 13", algures, neste imenso mundo. A diferença é que, para alguns, todos os dias são "sexta.feira 13": uns, porque não têm hipóteses, nasceram no dia errado, no sítio errado, na altura errada, porque não existe, nesse extremo, uma altura certa. Está tudo errado...sempre e para sempre. Outros, porque são tão afortunados, mas não o reconhecem, quase perdendo o direito de tal sorte que, nada mais fazem a não ser estarem agarrados aos seus dias menos afortunados e encarnarem papéis de mártires, durante o resto das suas vidas. Tiveram um dia mau e a sua vida passou a ser má.

Houve uma altura, que durante 3 anos seguidos, pelo menos, qualquer coisa acontecia no dia dos meus anos. E ai, como eu gosto de festejar o meu aniversário, a minha existência...Não há nada mais "intrigante", por vezes, do que uma pessoa que detesta festejar o seu aniversário e só quer que esse dia passe. Porquê? Desejava nunca ter nascido? Naquele dia, os planos que fez para essa altura da sua vida, não se concretizaram? E depois? Mais dias virão...

11:32 da manhã  

Enviar um comentário

<< Home