terça-feira, novembro 14, 2006

Eco-Grafia

O sofrimento, sendo este, à partida, algo "negativo" ou pesado, nem sempre é negativo. Isto é, por exemplo, amar também é sofrer. E, por vezes, só sofrendo, é que nos apercebemos que sentíamos amor por alguém, qual a sua intensidade, qual o seu papel fulcral na nossa existência. E nunca é tarde para amar, e tal como não existe a altura perfeita ou exacta para descobrir o amor, o sofrimento também aparece inesperadamente. Da mesma forma, ambos desaparecem sem darmos conta. Ainda mais arrojado, muitas vezes, ambos vêm lado a lado ou um encobrindo o outro. É um kit completo - "how to live and let die every single minute", mas sem o auxílio do Mr. Q., do James Bond. Mas não é por isso que a vida deixa de valer a pena ou de fazer sentido. Isto é, para mim. Há mil e uma maneiras de sofrer e de amar, de viver e de morrer. O sentido da vida, talvez seja fazer o melhor percurso ou caminho possível até à morte,conclusão da vida. Não podemos é viver ou não deveríamos era viver "suspensos", à espera da morte. Existindo, a morte, está lá. Sempre. Existir desistindo, é não existir. É insistir em ser levado antes do nosso tempo. "Desistir" por não nos deixarem existir, é viver. Porque escolher morrer quando não se vive, é gritar bem alto que existimos. E deixamos vago o nosso espaço, para outros existirem e insistirem.

Não deixei de ouvir as músicas que me fazem lembrar a minha mãe ou outras pessoas queridas, estejam elas vivas ou não. Longe da vista, longe do coração, comigo, não funciona. A menos que desligue. Se me desligar de alguém, é tão difícil voltar a ter uma ligação. É como a bateria do meu telemóvel... :-) vai-se abaixo muito rápido e este, o aparelho, desliga-se, sem dar aviso, sem dar sinal. Quando ouço as ditas músicas ou vejo certos filmes, muitas vezes, sofro. Mas é um sofrimento "bom", mantém-me viva, espicaça-me, faz-me ir ao fundo, durante uns segundos e depois, quando volto à superfície, sinto-me mais leve. Lembro-me de um "idiota" (um parvo cheio de ideias...), dizer uma frase feita, mas que faz todo o sentido: nós somos como uma caderneta. Temos os espaços para os cromos, da nossa colecção e vamos lá colando cromos e mais cromos. A dada altura, temos cromos repetidos. O que fazer? Trocar de cromos, com outros coleccionadores. Daí a necessidade de o ser humano relacionar-se com os outros, porque corre o risco de ter a sua caderneta gordíssima e troca os cromos consigo mesmo. Isto é, não há uma troca, há sim, um repetir constante das coisas, há uma vida cheia de coisas vazias... Por isso, hoje, eu dou-te amor, amanhã, tu dar-me-às torpor, ontem, ele deu-me vontade, outrora, nós demos felicidade, às vezes, vós dáveis generosidade e nem sempre eles dão a verdade. E em vez do tão nosso "vai-se andando", podíamos dizer - "vou dando". Tantos "E's" (iis) ...

Cada vez que ouço a primeira ou última música da banda sonora do Platoon, sinto "as" contracções. Algo (re)nasce em mim, visualizo "parte" de mim outrora "partida", como a Fénix (re)nascida das cinzas. Estou a pôr o cd, neste instante... lá vem a 1ª música e o meu coração saltou. Estou viva...

p.s - continuo a ouvir o cd e este diz-me que a vida continua. Foi mais um falso alarme. Até a morte tem horários, apesar de ter isenção. Mas, às 12.25, ela foi almoçar. Turnos tão longos requerem muita energia...

With your E's
And your ease
And I do one more
Need a lip gloss boost
In your america
Is it God's
Is it your's
Sweet saliva

With your E's
And your ease
And I do one more
I know we're dying
And there's no sign of a parachute
We scream in cathedrals
Why can't it be beautiful
Why does there gotta be a sacrifice
Gotta be a sacrifice

Just say yes
You little arsonist
You're so sure you can save
Every hair on my chest
Just say yes
You little arsonist
With your
With your E's
And your ease
And I do one more

Well I know we're dying
And there's no sign of a parachute
In this chapel
Little chapel of love
Can't we get a little grace
And some elegance
No we scream in cathedrals
Why can't it be beautiful
Why does there gotta be a sacrifice
Gotta be a sacrifice
Gotta be a sacrifice

Tori, sempre, Tori Amos, "From the choirgirl hotel" - iieee