sábado, março 31, 2007

"A Pain That I'm Used To"

Milão já lá vai, Veneza também. Foram dias amorosos, companhia agradável, contudo, um pouco afastados da realidade. Pelo menos de parte dela. Felizmente, a realidade, a minha realidade, tem sempre alguma constância, que está sempre presente.

Chegados já há uma semana a Lisboa, a constância tem marcado a sua presença e a parte menos "constante" da realidade também: a massa humana. Termo usado por uma amiga constante, ainda que muitas vezes distante, fisicamente, mas que só a sua companhia durante escassos minutos, dá-me um extra de constância à minha vida, à minha realidade. Realidade que é só minha e de quem dela "conseguir" fazer parte. É crua, é dura, é firme, é honesta, é sincera, é ingénua, é abrangente, está, de facto, cheia de gente e, ainda assim, por vezes, sinto que tem alguns vazios. Vão aparecendo. E, mais curioso ainda, não sinto vontade de preenchê-los novamente. Há coisas que é suposto não fazerem parte da minha vida e, se constantemente reparar na sua inconstância, algo está mal. E, como hoje pensei, poucos minutos depois de sair da cama, "tudo se dissolve, tudo se resolve".

A tal massa humana, da qual faço parte, deixa-me desolada. Estranho, pois nunca tive grandes ilusões sobre a mesma. O que não impede que hajam momentos de desolação. Em que me apetece pegar num dos buracos, dos meus vazios e escapar para outra realidade. A nossa massa humana, no geral, está podre, amorfa, pervertida, pútrida, cheia de defeitos e vícios. Vislumbram-se alguns sorrisos sinceros, alguns olhares esperançados mas, a dada altura, todos passam por momentos de desolação. Que, felizmente ou infelizmente, depende do ponto de vista, podem levar a momentos de crueldade, muitas vezes, sinónimo de sinceridade, de verdade. "Sad but true", alguém canta, certo?

Bem, então é assim. É verdade, é triste, mas é verdade. É a minha verdade. Digo-o não porque alguém mo disse, " tua verdade", mas porque um filósofo contemporâneo chamado "George Costanza" disse- "se acreditares, é verdade". Concluo também que, sou uma Elaine Benes e que me sinto tentada a ser assim a toda a hora - curta, directa e fria. Não nasci para reproduzir frases saídas de "bolinhos da sorte" do restaurante chinês. Ou do horóscopo. Como qualquer estrangeiro esperto, podia ter conversas infindáveis com toda a gente, usando simplesmente a palavra "pois" e acenando a cabeça de vez em quando. Só que os estrangeiros espertos, normalmente, estão cá de passagem, de férias... E eu, vou estando cá mais tempo... Pois é...

O que é esta lengalenga toda? Estes textos enooooooormes que eu escrevo, por vezes em letras pequeninas que custam tanto, tanto a ler... Não é nada. E é tudo. É aquilo que cada um quiser. É interpretado, ajuizado como quiserem ou é simplesmente mais um texto fastidioso que eu teimo em escrever. Com tantas imagens, filmes, vídeos, frases feitas, frases curtas, citações, letras de canções, fotos que podia cá meter, insisto em escrever o que me vai na alma. "Vale sempre a pena quando a alma não é pequena". Aí está, uma frase mais do que refeita, mas que ilustra bem o meu estado de espírito, o meu ser. E eis que me pergunto, será que vale mesmo a pena?

Não, ainda não. Felizmente temos um mapa do mundo, com tantos sítios para ir e, quem sabe, não voltar. Pois no fim de cada dia, resta-nos a nossa consciência e os nossos medos. Estejamos nós sozinhos ou com alguém ao nosso lado. E isso, não muda, estejamos nós aqui ou em qualquer lugar. É a chamada bagagem, vai sempre connosco. E, guess what? Não há limite de bagagem, nem formatos fora do normal. Cabe tudo. A solução? A dada altura, é necessário começar a "perder" alguma bagagem.

Sinto-me muitas vezes desolada. O que vejo, é feio. O que sinto,repulsa. O que faço quanto isto? Nada. Nada. Nada. Sinto-me "iniquamente" roubada". Procuro e não encontro "os meus pares". Vejo teatralidades, falsas moralidades, milhentas verdades. A verdade e a mentira, o bem e o mal, totalmente distorcidos. É um jogo e cada jogador joga com estes "artifícios" consoante lhe convém. Entrego-me e julgo estar na mesma direcção e nada. Estupidez minha? Muita. Mea culpa. Mas... Bene, va bene. Como não consigo entender-me nestes joguinhos de verdade e mentira, escolho a "consequência". A verdade, fica para os verdadeiros. São poucos e chegam. A consequência, reduzir-me ao "pois" com a restante e imbatível maioria . Um dos meus termos preferidos na língua portuguesa, desde já algum tempo. Mas tem estado guardado no armário, como "a peça de roupa para aquele momento". Só que, afinal, são momentos, não o ou um momento. Keep it simple stupid, digo eu tantas vezes. E eu, não o tenho feito. Por isso, a partir de hoje, só light, very light. Uma enciclopédia de frases feitas e perfeitas. You name it, I smoothly shoot. "estou tão triste" - comentário - "deve ser do tempo, nunca mais vem o verão". "não aguento mais isto" - comentário - deixa estar, isso passa. Vais ver que as coisas mudam." "já não caibo na roupa" - comentário - se deixasses de comer que nem uma porca e mexesses esse rabo! - oops, enganei-me. "é normal, deve ser da pílula. Ou genético. Pareces um passarinho a comer..."

Bem, agora vou eu comer. Uma feliz constância na minha vida, a comida. Também tenho um gajo de meias, boxers e camisola de lã, no sofá e com um prato com salada. Agrada-me. Faz parte da minha bagagem, da minha verdade. Afinal, não é tudo assim tão mau. Já não me sinto tão desolada. Engraçado...com ele, as frases feitas soam sempre perfeitas. É tudo tão simples, tão nítido. É uma "ensalada" - género musical - com um pouco de tudo - frases dramáticas, frases feitas e muito humor negro à mistura. E resulta. Enquanto durar, esta ensalada, sentir-me-ei descansada. "Graças a Deus!" :-) E vou dançar um pouco! DJ! Playing The Angel - D.M