segunda-feira, janeiro 22, 2007

"Brideshead Revisited"

Mais um fragmento da minha vida. A vantagem de nessa altura, só existirem dois canais de televisão e do meu pai ter uma ou duas, ou mais...manias, é que muito do que víamos ou o que víamos, era escolhido a dedo e esta era uma das séries que tínhamos autorização para ver. A minha mãe tinha pouca instrução, mas um gosto inteligentemente requintado e uma vontade sagaz de conhecer mais e mais, fazia parte dela e a tornava única e bela... (Agora doeu-me qualquer coisa...) Passei muitas noites a ler as legendas desta série e a deleitar-me com as figuras deles. Que interessante, pois era suposto ser um "castigo" e, secretamente, era um dos meus "frutos proibidos" que eu, devorava, em voz alta e ao lado do meu carrasco. Algo como, a última refeição de um condenado à morte, conter, bem à vista, algo que termine com a sua vida, neste caso pela sua própria boca, sei lá, um ingrediente ao qual ele fosse alérgico, mas que adorasse comer, ou as últimas palavras num cadafalso, como a Selma, no "Dancer in The Dark", serem uma música por ela entoada, cheia de vida e que, mesmo depois de silenciada, ecoava na atmosfera e beijava todos, que lá teriam ido, por bem, por mal, ou por vil prazer.

Eu tinha uma "paixão" pelo Jeremy Irons, a minha mãe também e guess what, mais um "Sebastião" me chamava a atenção e também tive um "Sebastian" na minha vida. Que loucura, que insanidade, ele contra o mundo e eu fazendo parte do mundo e do "seu" mundo.

A vida na série era confusa, atormentada, excruciante, tudo parecia ser nada, todos pareciam naturalmente infelizes e, ainda assim, tudo parecia tão belo e romântico. God, a minha vida tem sido tão parecida... Felizmente, ao contrário da série, a minha vida teve continuação e por isso, tem tido alguns desfechos muito diferentes. Mas marcou-me bastante e de tantas maneiras.

Estou atrasada, enquanto me visto para sair, ouço a banda sonora da série...o que atrasa ainda mais!

6 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Acabei por ler... E voltar para ler. Uma espécie de magnetismo nas tuas palavras. Como se eu voltasse a um espaço que não é meu mas que identifico como meu. Há uma atmosfera no teu passado que me parece familiar...

10:58 da manhã  
Blogger Carina said...

Quase tive um Sebastian, tinha o seu quê de sedutor, confesso, talvez aquele modo de falar,como se lhe caíssem as palavras pelos lábios.
Revisitei Brideshead ( já reparas-te, a cabeça da noiva!), comprei o DVD na feira da Ladra, tinha lido o livro no ano anterior, só me lembrava da minha mãe em frente à televisão a tentar explicar-me o que se passava e depois anos mais tarde, quando juntas víamos o "A amante do tenente inglês" me dizer, "lembras-te deste?- é o Jeremy Irons do Reviver o passado em Brideshead".

9:45 da manhã  
Blogger Tokitoka said...

De alguma maneira,certas séries ou filmes dessa altura,diziam muito mais do que algumas de hoje. Talvez de uma maneira futurista,mesmo tendo uma complexidade própria daquele tempo. Hoje as coisas continuam complexas mas devido a uma maior quantidade de "complexos" criados por nós. Temos mais espaço de manobra, mais "liberdade de expressão" (pelo menos nós, nem todo o mundo a tem), mas a comunicação, o amor, o que queremos ser quando formos grandes, continua ser um grande desafio ou até um grande fardo.

O meu Sebastian durou uma eternidade, uma vida, cerca de 10 anos, as palavras escorriam dos seus lábios e deslizavam no papel, mas a partir de certa altura, eu só conseguia ver uma amálgama de símbolos e quase me perdi nessa teia. Demorei, mas lá veio a fase do desmame, da ressaca e life goes on..felizmente

10:25 da manhã  
Blogger Gonçalo Franco said...

era eu o anónimo... esqueci-me de logar

4:57 da tarde  
Blogger Tokitoka said...

Já te conheço tão bem, meu querido. Que de anónimo, não tens nada...excepto tudo o que é partilhar com a tua soul mate.

5:45 da tarde  
Blogger Gonçalo Franco said...

ah... então está bem :-)

11:04 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home