domingo, novembro 26, 2006

"Sentir é uma maçada."

"O mundo é de quem não sente. A condição essencial para se ser um homem prático é a ausência de sensibilidade. A qualidade principal na prática da vida é aquela qualidade que conduz à acção, isto é, a vontade. Ora há duas coisas que estorvam a acção - a sensibilidade e o pensamento analítico, que não é, afinal, mais que o pensamento com sensibilidade. Toda a acção é, por sua natureza, a projecção da personalidade sobre o mundo externo, e como o mundo externo é em grande e principal parte composto por entes humanos, segue que essa projecção da personalidade é essencialmente o atravessarmo-nos no caminho alheio, o estorvar, ferir, e esmagar os outros, conforme o nosso modo de agir.
Para agir é, pois, preciso que nos não figuremos com facilidade as personalidades alheias, as suas dores e alegrias. Quem simpatiza pára. O homem de acção considera o mundo externo como composto exclusivamente de matéria inerte (...) como uma pedra sobre que passa ou afasta do caminho, ou inerte como um ente humano que, porque não lhe pôde resistir, tanto faz que fosse homem como pedra, pois como à pedra, ou se afastou ou se passou por cima.

Que seria do mundo se fôssemos humanos? Se o homem sentisse deveras, não haveria civilização." Bernardo Soares, quem mais?

Estou a tornar-me cínica? Acho que não... Espero que não. But (there's always a "butt"...), o que é que se passa com as pessoas? O que é que se passa comigo? Estarei "doente"? Estarei a ficar cega? Às vezes, não vejo nenhuma luz. E quando vejo uma luz, quase não vejo ninguém a dizer - "stay away from the light!". Porquê? Será que alguém tem uma resposta? Porque, pelo menos uma vez, gostaria de obter "uma" resposta, não "a" resposta. O mundo está cheio de certezas, já tinha, algures, pensado nesta questão. Mas não com tanta certeza como nos últimos dias... Tudo é relativo, é verdade. Mas relativo a quê, a quem? À nossa própria pessoa? Relativismo direccionado para o próprio relativista? Bem vindos aos R.A - relativistas anónimos. Ou aos A.A - acertados anónimos. Nunca me senti tão desacertada por estar rodeada de gente tão acertada. E será que eu, esquizofrénica como sou, sou desacertadamente acertada, sem o entender? HELP

Toda a gente parece ir ao encontro de alguém, de qualquer coisa. Contudo, nunca vi tanta gente esquiva a tentar acertar acertadamente em algo ou alguém. O que conta, sugerem-me estes esquivos, é dizer que vamos ao encontro de A, B e/ou C e D. Vamos, é o que importa. É assim! As pessoas correm e correm, mas não percebo porquê ou para quê. Estão atrasados para algum encontro? Estão fugir de um desencontro? Correm para não ser apanhados? Ou serão apanhados por estarem a correr? Grandes pancadas... Será que, estrategicamente seguindo à regra todas as normas e regras sociais, não será, justamente para fugir e rejeitar essas mesmas regras? Cinicamente, damos o nosso aval a todas as regras sociais e, claramente, apontamos o dedo aos que, convictamente, desprezam, realmente, as conveniências sociais. E esses, os convictos, são os "doentes", são os "cínicos", são os outros. Nunca somos nós. E, ainda que falando de outros, projectamos e estamos sempre a falar de nós. Somos o eixo da nossa vida. E neste momento, sim, falo sobre mim, para mim e para mim. Se ilustrasse esta (a)firmação, usaria a imagem da cabeça de Carrie a rodopiar sobre si mesma. God, I could use myself a drink...

Sendo um pouco fedorenta, o que me recorda que tenho um banho para tomar... "eles falam, falam e falam, e falam..." e não dizem nada. Ou, como dizia outro fedorento que em tempos conheci, eles são jovens, não sabem. São? Jovens? E, não sabem? Até hoje, ainda não encontrei alguém que nada soubesse, excepto o Sócrates. Não o nosso P.M! O outro...Eu não sou anti-socrática! Pois Anti-socrático é o que não dá valor à sua ignorância, o que não reconhece sequer que não sabe: aquilo que ignora é transmitido como se não existisse. Porque, bem à superfície, seria mais fácil se pensássemos que ignoramos mais do que sabemos... Por outro lado, além de Socrática, só muito Cartesiana. O que faz com que, automaticamente, eu ponha em caso tudo o que aqui disse. No meu entender, não faz mal dizer. Só dizendo as coisas, aos outros, além de a mim própria, conseguirei "visualizar" alguma coisa e tentar analisar o que disse, o que não disse, o que não deveria ter dito e o que jamais direi ou voltarei a dizer... Yet, é complicado. Pois, parece-me que ninguém está disposto a ouvir o que tenho para dizer. En garde! Comecem os jogos! Começam as trocas de palavras, os dissabores, os tremores, a defesa das "honrarias", o reconhecimento e associação imediata com as várias "confrarias" criadas, justamente, para esses momentos de histeria. Já lá vai longe a época do "perguntar não ofende", "amigo não empata amigo", "diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és"... e so and so. Confusa a escolha das "frases idiomáticas", porém, cada vez mais sintomáticas. Perguntas algo, porrada levas. Dizes algo a um amigo, isto é, algo que te (pre)ocupa, que, julgo eu, deveria mostrar que te pre(ocupas), levas porrada. Enfim, só uma nódoa negra andante. E bem negra.

Well, I see "dread" people. Está tudo na boa, são todos os maiores e se não está tudo na boa, leva-se na boa. Porque nem sempre se pode estar na boa, leva-se tudo na boa, just in case. Lá está, porque "é assim", a vida e ninguém é perfeito. Por isso, há quem pense que eu deveria levar a vida na boa e deixar de me armar em boa. Amigos, só se estivesse com a "broa". E não estou. Por isso, numa de boa fé, já que estamos numa de b(r)oas, permitam-me discordar das vossas certezas, manifestando claramente as minhas incertezas. Se, vocês, criaturas, se sentirem indefesas, não se preocupem, há sempre uma certeza em cima da mesa para usar: a certeza de que, por mais incertos que estejamos, temos sempre a hipótese de dar um pontapé na mesa e fazer com que tudo volte à estaca zero. As cartas estão todas baralhadas, já nenhum dos jogadores têm uma boa mão e, a única opção, é começar um novo jogo. Afinal, não se pode parar. Porque parar é sentir, sentir é reflectir e nós não queremos isso, do we?

E... lá se foi mais um poeta. Dele, bem, só conhecia o seu nome e pouco mais. Por isso, deixo falar o próprio:

PASTELARIA

Afinal o que importa não é a literatura
nem a crítica de arte nem a câmara escura
Afinal o que importa não é bem o negócio

nem o ter dinheiro ao lado de ter horas de ócio
Afinal o que importa não é ser novo e galante

- ele há tanta maneira de compor uma estante

Afinal o que importa é não ter medo:
fechar os olhos frente ao precipício e cair verticalmente no vício
Não é verdade rapaz?

E amanhã há bola antes de haver cinema madame blanche e parola
Que afinal o que importa não é haver gente com fome

porque assim como assim ainda há muita gente que come
Que afinal o que importa é não ter medo de chamar o gerente e dizer muito alto ao pé de muita gente:

Gerente! Este leite está azedo!

Que afinal o que importa é pôr ao alto a gola do peludo à saída da pastelaria, e lá fora – ah, lá fora! – rir de tudo
No riso admirável de quem sabe e gosta ter lavados e muitos dentes brancos à mostra
-Mário Cesariny(1923-2006)

p.s - sabiam que os sem-abrigo, a maioria, vive na rua por opção? Disseram-me há dias, este facto claro e evidente que eu desconhecia. E então, finalmente, "vi, claramente visto"...