sexta-feira, abril 27, 2007

Unplug


Ontem vi o filme "Electroma", dos Daft Punk, sobre dois robots que querem tornar-se humanos. Loucos... O filme é, como alguém disse, um teledisco bastante alargado deles, por mim, teria sido mais fácil torná-lo numa curta, com 45 minutos, 1 hora. Gostei de o filme, não digo que não. É angustiante, além da música, não há diálogo, palavras, narração. São as imagens e a acção ou quase "inacção" que falam per si. É intenso. Realmente, uma imagem vale por mil palavras. Pergunto-me como seria o mesmo filme, realizado pelos Air? A minha visão do filme, é que no fim, eles são bem sucedidos. Isto é, tornam-se humanos. Porquê? Porque se suicidam...

No entanto, ponho-me a pensar, estamos nós a ficar cada vez menos humanos? Nunca sentem medo de um, deixarem de "sentir"? De pensar? Pensamos por nós ou reproduzimos pedaços de discursos, imagens, milhares de fragmentos que passam, à velocidade da luz, à frente dos nossos olhos? Já se olharam ao espelho e viram a vossa cara com a expressão mais expressiva que já haviam reconhecido no vosso rosto e, no entanto, os vossos olhos, estão baços, presos num vazio? Não vos assusta?

Eu cada vez que passo por um mendigo, por um toxicodepente, por uma pessoa claramente vítima de violência, ostracizada, ou por alguém com um ar solitário, pesaroso, que se sente perdido, sinto um nó no estômago e penso, porquê? Já por duas vezes, pelo menos, encontrei pessoas na rua, a chorarem e aproximei-me. Lembro-me, uma vez, já há uns 10 anos, ia no autocarro com um amigo e, à nossa frente, está sentada uma miúda, a chorar. Perguntei-lhe se estava tudo bem, se ela precisava de alguma coisa e ela abanou a cabeça e agradeceu. Eu toquei-lhe na perna e disse-lhe tudo se resolveria...
Eu sei que estas frases podem cair no vazio, mas o gesto não. E penso, quando vejo situações semelhantes, que eu sou ela, aquela pessoa. E no dia em que nada sentir, quando passar por ela, continuarei a ser aquela pessoa, mas passo também a ser um dos seus carrascos... Ela é o produto do meu trabalho, fruto da minha indiferença, tem estado dentro do meu caixote do lixo. E só a via, quando abria o caixote, para pôr mais lixo. E quando já a "não vejo" na rua, quando (não) passo por ela, significa que o meu caixote já estava cheio, que o despejei e o meu lixo passou a ser pertença pública. O que faz do meu lixo, o vosso lixo...

Ando a pensar demais? Deveria tentar ser um pouco mais estúpida? Às vezes, apetecia-me ser menos humana e agir como um robot ou ligar o "automático", em velocidade de cruzeiro. "Curtir" a vida...cortá-la aos pedaços e esquecer as ligações. Não entrar em curto-circuito. O que alguém decidiu, decidido está e nada podemos fazer. A não ser... ______________________