domingo, fevereiro 11, 2007

SIM SIM SIM SIM SIM SIM SIM SIM

Ontem estive 3 horas a escrever um post sobre o individualismo moderno. Infelizmente, ou não, no final esta "#$%%&%# deu erro e puff! Além de ter feito uma colecta de vários textos, de professores, de antropólogos, sociólogos, filósofos, and so ever, tinha um "conto" meu, que saiu a ferros e depois, puff again. O.K, existem coisas piores na vida. Como o ser necessário ver a "Aljazeera", para conseguir ter, finalmente, uma exposição clara, sintética e frontal, sobre a questão do aborto em Lisbon, Portugal, frente ao Hotel Altis.

Em suma, o repórter fala dos resultados, do SIM, para o qual orgulhosamente, contribui pela 2ª vez, da sua vitória, oca mas que ecoa...e este eco mais os sim's e a posição do governo, poderão e deverão levar a uma mudança, ainda que existam meses de debate pelo meio. Falou dos 25 mil abortos feitos clandestinamente e nos de Espanha. E concluiu dizendo que, a não adesão às urnas, poderá ser explicada pelo facto de os homens solteiros, homens mais velhos e mulheres idosas, não se sentirem atingidos por isto, ou seja, não lhes interessa e que há uma certa apatia nas pessoas portuguesas e clara. "9 years ago, it was a summer day, today, was raining..." Amanhã? Espero que não haja outro amanhã!

Contribui para o SIM (YES), porque como ser humano e last but not the least, só mulher e, acima de tudo, conduzida pela minha experiência de vida, pela dos outros, pelo meu self e como profissional de ciências sociais e habituada a lidar com a "porcaria de vida" dos outros, (vida essa que que muitos de nós não têm, mas 2 milhões de nós vivem abaixo do limiar da pobreza) - eu já tive uma vida dessas, já fiz parte dessa estatística, mas tive mérito e sorte, consegui vingar na vida. Até agora. Ninguém sabe o dia de amanhã; se cuspires para o alto, cai-te na testa... Ontem alguém me dizia: "amanhã, vamos votar meninas!" E eu pensei: Nina, vais ficar calada, já sabes o procedimento nestes casos. Não valeria a pena perder uma amizade por isto. Mas, apetecia-me dizer - "sim, mas vamos votar em quê "Mamã" ou "Miss Moralidade"? Pelo teu historial, devo deduzir o quê: sim -porque vai ser a maioria e o melhor é andar "em carneirada"; não - pois gosto de manter as aparências e o que eu fiz não é da vossa conta e eu sou diferente dessas outras... Antes desse apelo ao voto, a mesma pessoa disse-me que ter filhos era a evolução natural. E eu respondi: sim, se estiver de acordo com o desejo da pessoa, querer ter filhos, se esta tiver condições físicas, psicológicas e financeiras para ter e se já não está marcada por más experiências conhecidas por "abortos ilegais" e... Bem...fast forward. E já agora pergunto: e os pais desses fetos, não deveriam também ser ouvidos e penalizados, se é o que muitos desejam? Virgens Marias? Concepção divina? Não me parece. Alguém teve que fazer as honras...

E sabiam que, de acordo com a Igreja Católico, um feto não tem direito a enterro? E que, num parto de risco, salvar-se-ia sempre o bébé e não a Mãe? Com que direito, meus amigos? Os médicos dizem logo ao Pai - "salvamos o bébé, certo? Enfim, tiramos uma vida, um ser humano, no aborto, mas depois, vai igualmente para o lixo. Não tem direito a ser enterrada. Curioso... E que nos referendos, tirando cá, não existem campanhas? As pessoas devem decidir por si. Campanhas implicam programas, listas, candidatos, propostas, "promessas", ofertas... Sigamos

A olho nu e cru, aqui segue a minha história, que não é só minha, pode ou poderia ser vossa e é a de muita gente:

Nunca fiz um aborto e espero que, por razões alheias à minha pessoa ou por ironia do destino, não tenha que o fazer. Não tenho filhos, quero ter, espero conseguir ter, sejam biológicos ou adoptados ou encontrados, whatever, serão meus filhos. Venho de uma família não numerosa, mas escabrosa: tenho cerca de 15 irmãos. Abortos, não existiram, desmanches, sim, infelizmente. E já isso marca e bem. Abortos provocados pela vida em si - 2 quase 3. Dos 15 irmãos, um morreu com SIDA, outro é sem-abrigo e ficou esquizofrénico, o quase 3º, passara de beto, menino Façonnable, a arrumador de carros durante 4, 5 anos? Graças a...ele, Deus não tem nada a ver com isto, fez uma cura, melhorou exponencialmente de saúde, tem duas filhas, é bombeiro, salva vidas constantemente e já quase morreu por causa disso... Admiro-o, por mais mal que me tenha feito, os seus feitos superam qualquer sentimento negativo que poderia ter por ele.

Ainda dos 15, uma das minhas irmãs mais velhas, desorientada e vitimizada durantes anos, ainda hoje o é, saiu para a rua, foi de encontro ao mundo e este deu-lhe muita porrada, fê-la passar pelas maiores humilhações e há 10 anos atrás, apareceu quase morta à porta de casa dos nossos pais. Imaginem, uma filha, irmã, amiga, uma pessoa, aparecer cadavérica ao pé de vocês, depois de ter conseguido fugir de um antro, de uma rede, que a iludira e que, parcialmente, a matou. Dois anos e meio de internamento num sanatório, menos um pulmão e marcas psicológicas irreparáveis...
Antes disso, a vida inteira a fugir: diferentes agressores, sem autoridade e com autoridade e de farda. Pelo menos mais duas vezes apareceu quase a morrer em casa, depois de ter sido mutilada e atirada para a rua. Imaginem, o cheiro, a podridão, quase como um cheiro a decomposição. Mãe é mãe e a minha salvou a sua vida e nunca lhe virou as costas. Família numerosa era esta! Não me falem de 3, 4 filhos como sendo numerosa e com rendimentos elevados. A minha Mãe não trabalhava, i.e, fora de casa... e nunca tivemos nenhuma ajuda, excepto entraves imensos. As marcas, na minha irmã já eram tantas, tantos os desprezos e abandonos, tanta ajuda lhe fora recusada, negada, sonegada, as mutilações várias, o seu sentimento de inutilidade, sentir-se um zero, assumir consciência da sua invisibilidade. O vazio da sua alma, o desaparecimento do brilho dos seus olhos, as lágrimas que secaram e que quase a cegaram. Esse tal brilho, já vi desaparecer dos olhos de tanta gente e em algumas, nunca cheguei a conhecê-lo. Lembro-me de uma amiga de outrora, com um sorriso lindo, uma vontade de viver enorme, no meio de um impasse, a opção era dolorosamente clara: "mutilação". Perdeu o seu brilho e tornou-se zombie. Ele, o que nunca chegou a ser Pai. que esteve lá com ela, nessa altura da sua vida, mas perdeu também o seu brilho, o sorriso. As gargalhadas dele, eocavam e de repente, fez-se silêncio. Afastaram-se um do outro, ela zombie continuou e ele, continua bem no fundo, arrastado de buraco para buraco.

Nunca ninguém teve 5 minutos para eles, para a minha irmã. Eles sabiam que não havia lugar para eles no mundo, lugar esse ou não-lugar, por bem ou por mal, todos contribuímos. Imaginem-se na rua, feitos loucos, a chorar, a rir alto, disfarçando a dor e mal que vs consome, nus, despidos, abertos como um livro e passem pela inevitável invisibilidade. O poder que esta tem de "foder" qualquer um. Não encontrei um eufemismo. Imaginem a vossa própria família passar por vocês e apontar-vos o dedo ou fingir perfeitamente, que não está ali nada...

A minha irmã, depois de tanta mutilação, tentou tirar da sua vida mutilada, algo de positivo. Um dia engravidou de um abutre e resolver ir em frente. Estava farta de não ter direito a ser Mãe. Para ela, na altura, foi escolha messiânica. Seria para qualquer um de nós: sozinha, com uma barriga a crescer,num lar de apoio a Mães solteiras, de freiras e cruéis, mas ela cheia de vontade de ser finalmente importante e visível para alguém, ser útil, sentir-se gente. Levou a sua decisão avante e nasceu a nossa Cátia. A 1ª vez que a vi, disse - Ai, tão feia! Era miúda e já era louca... :-) Um ano e pouco depois, a pressão era muita, a falta de apoio, de background e mais, o sentimento de ser uma falhada era mais forte do que ela. Julgava ela que tinha encontrado um homem, o homem da vida dela, mais um...que a aprisionou, literalmente e prefiro não dizer, nem recordar o aspecto da prisão, dela e da bébé. Uma pista, pior que um filme do Kusturica. Conseguiu, literalmente, fugir dele, ele perseguiu-a, ela foi para nossa casa e ele montou guarda, 24 horas por dia, à nossa porta. Cândido, era o seu nome. Irónica e safada, a vida! Cândido! Semanas depois ele cansou-se, voltou à caça de mais carcaças e ela, passados uns dias, puff! Ficou a Cátia e basicamente, desde então, é minha filha e a do Rodrigo, meu anjo da guarda, quando ela ficou definitivamente de papel passado, connosco.Ganhou mais uma mãe e um pai que nunca teve. Na altura, do puff , as sequelas do aprisionamento eram tantas, que a miúda foi directa para o hospital e lá ficou uns tempos. Nem dois anos tinha. Mas olha, a minha Mãe ainda estava cá, e eu sempre estive lá e hoje ela tem 18 anos e no matter what, é perfeita. Teria 13 anos, quando fiquei com ela? Haveria tanto para dizer, mas how to make a long and strong story short... Talvez aos pedacinhos...

Após esse desaparecimento, é que a minha irmã voltou para morrer e sabe-se lá como, lutou durante 2 anos e meio e está viva. Teve outro filho mais tarde, está com ela, é lindo... Engravidou outra vez de outro homem da vida dela...ela ficou sozinha, estava com tuberculose, perto do cadavérica, sem trabalho, sem comida. Ligou-me ao jantar num dia de anos meus. Las Brasitas, bom ambiente e, pimba, telefone vermelho, "Olha,tenho uma novidade" e eu disse "Ai é, estás grávida. Eu sei". Disse que não tomara a pílula em Maio, mas que voltou a tomar no mês a seguir... Como é que se julga alguém assim? Eu já sabia muito antes dela. Só se queixava dos comprimidos da tuberculose que a faziam vomitar e ela chateada com os médicos. E eu, cheguei a dizer e gravidez? E ela, ai, não. Pois, mas eu também tivera tuberculose, há 10 anos e sabia os efeitos dos comprimidos. Cortam o efeito da pílula e outra protecções se pedem.
Quando se fez luz naquela cabeça, estava ela de 5 meses. Tivemos longas conversas, como se eu fosse o Pai da criança... Disse-lhe que a solução era adopção. Ela não queria. Se fosse outra solução, eu estava fora. E com 5 meses e tuberculosa, uma carniceira qualquer queria fazer-lhe um aborto! Eu nem queria acreditar!
A talhante, no entanto, quando a viu, deve ter pensado - porra, esta ainda me fica aqui estendida. Há tanta criatura vil, desprezável no mundo.

Lá nasceu a Mariana, dei-lhe eu o nome, pois após o seu nascimento, só me vinha a cabeça, ela não tem nome, não tem identidade, não existe. Eu chorava de alegria, de terror, de horror, de angústia, ai, de tanta coisa. Foi em casa dela, corrijo, no buraco onde ela vivia na altura, numa sub-cave, com um candeeiro fraco, de secretária. O meu sobrinho, ao seu lado, 7 anos, zonzo, pensando que algo estava a acontecer e que a culpa era dele. Disse-lhe que estava tudo bem, que se iria resolver, que ele fosse forte pois a sua mãe precisava de si e que lhe desse a sua mão, para ela ter forças para conseguir. Foi tudo em casa pois ela, cabecinha pensadora (eu amo-a, apesar de não lhe dizer as vezes que devia...), ligou-me às 14h a dizer que estava com dores, mas disse que ainda dava para esperar. Às 17h, já nem conseguia falar. Eu com o INEM ao telefone, ela a dizer - "vai sair, vai sair" - e não é que saiu?! Eu de faca na mão, à procura de fósforos para ligar o fogão e desinfectar a faca e a pensar: O cordão: corta-se agora, daqui por um bocado? - tentem manter a calma numa situação destas ou "atrevam-se" a desmaiar... Ao mesmo tempo pensava - "eu não quero tornar-me na minha Mãe. Que passou a vida a aparar os golpes dos outros". Já ela tinha morrido, 3 anos antes, um ano depois do meu irmão ter morrido. Não aguentou. Todos temos algo a dizer sobre se as pessoas devem ter filhos ou não, se devem abortar ou não, se devem ir presas. Mas, ninguém, nos prepara e ensina a lidar com a perda de um filho. Impossível. Irreparável.

Bem, lá veio a minha futura ex-sobrinha, dependeu de mim ela ir para adopção e nunca me arrependi. Vivo com isso e é por viver com isso, que ela estará, algures viva... Escusado dizer que era linda... Os tipos do INEM chegaram (nesse dia, deixaram muito a desejar, aqueles) e o trabalho já estava feito. A minha irmã, atrapalhada, só falava nos papéis, por causa da adopção e foi como se tivesse tido a palavra mágica: imediatamente, começaram a maltratá-la, o antigo e nunca desaparecido desdém. Infelizmente, em vez de a ignorarem, escolheram reduzi-la a nada.
Não tivesse eu mais em que pensar e os seus nomes teriam sido tirados. Meti-os na linha, queriam que eu a vestisse e outras coisas e eu logo lhes disse o que é que eu faria... :-)
Na Maternidade, já se sabia da história, até vieram comentar connosco e eu disse, pois, era eu e a minha irmã. E lá vieram as desculpas. Pois a "doida" afinal não era invisível, tinha ali uma representante. As enfermeiras foram impecáveis e trataram-me como o Pai. Levaram-me para uma sala e diziam: tão nova e já com estas responsabilidades. A minha irmã tem um sentimento por mim de amor, ódio, ódio, ódio, amor. Por vezes e quando influenciada por familiares pseudo-moralistas-obssessivos-compulsivos-maníaco-depressivos, pensa e convence-se que a minha missão é tirar-lhe ou roubar-lhe os filhos. Não sou nenhuma heroína, nem quero ser. Olhem que custa fazer estas coisas e ser constantemente olhada como a "bruxa má". Uma pessoa habitua-se.

Resta dizer que, lá fiquei sem mais um pedaço de mim, a Mariana; a Cátia, a 1ª filha dela, estava desaparecidana altura da adopção, já lá iam 3 meses...E quando apareceu, pediu à Polícia e outros para ficar comigo, que era o seu sonho. Sonho nada fácil para mim de tornar realidade. Mas não hesitámos. Lá ficámos e damos o nosso melhor, ou seja, aquilo que está ao nosso alcance, a todos os níveis, e com as habituais coisas da vida, à mistura. Tinha ela 12, hoje tem 18, os nossos desafios, meus e do rodrigo como "educadores" e protectores, são outros. E os 18 aninhos.. Também é fácil dizer como educar os filhos dos outros... Ninguém tem que gostar, aprovar, discordar ou mandar palpites. Mudei-lhe as fraldas desde 1989 (de PANO!!!!), estive sempre lá, acompanhei-a no 1º dia de escola, muitas noites sem dormir quando desaparecia, ainda pequena, aos 6,7,8 anos... O meu coração entrou em colapso tantas vezes e, mesmo não sendo a experiência de vida mais importante que tudo, não quero ser arrogante mas, meus caros, a experiência de vida, estará sempre à frente de muita coisa, de muitos livros, de muitas teorias, de muitos palpites, de muitos referendos... Porque mesmo sendo negativa, aprende-se tanto. Tentativa, erro, certo?

O meu SIM, vem do desejo que estes sofrimentos parem, de reconhecer que a realidade, a vida é tão diversa, tão tramada e certeza de coisas como estas, de sim pode ou não pode, quem as pode ter? Como? Sim? Não? Não estamos a responder a um inquérito telefónico. É como um pedido de casamento: queres casar comigo? A resposta não deveria ser simplesmente sim ou não. Que tal um NI? Ou seja, sim, por isto e por isto e sem isto e sem isto. Ou não, por isto e por isto e por nada. Porque não quero. Evolução natural? O que somos? Animais? Macacos? Sim! Ficamos em casa, a ver televisão e a comer banana e a vida passa-nos ao lado. Muitos apoiantes do IM, ficaram em casa, porque acharam: isto já está ganho, não é necessário o meu voto.

Pensem numa filha vossa a chegar a casa, desfeita, mutilada: chamam a polícia? Pensem numa amiga desgraçada, tonta, ou azarada, que dá por ela com uma barriga de um Manel ou Chico? Ou seria Frederico? Também chamavam a polícia? Ou pensem na Constança, que sabe que se engravidar vai ser despedida? Também a denunciam? Julgam-na, porquê, como, com que direito? Para a minha sobrinha ter uma vida melhor, não a pude adoptar, pois ficaria perto da mãe e do outro inominável. Pensam que não custou? E ainda ouvi sermões sobre ficar com ela! Quando tinha a outra desaparecida, com 12 anos, há 3 meses e cuja PSP nunca fizera nada! Só quando metemos judiciária que disse logo, "crianças, sabemos de cor os nomes desaparecidos e Cátia, não consta" e começou a ligar para a PSP, todos se mexeram. Em 3 equipas de 3 turnos vinham eles, quando ma trouxeram... Eficiência? :-) Tomates cherry!!!

O fim da história da minha irmã: a vida tem sido tão má e grotesca para ela, que recentemente, teve que tirar o seu aparelho reprodutor. Irónico? Não. Resultado de maus tratos e abandonos sucessivos. E todos temos a nossa quota parte. Seja para com ela, seja para com outros. É o chamado efeito borboleta. Mas eu prefiro chamar solidariedade. Quem sabe se amanhã não somos nós?

Mas ela tem avançado e muito. Continua a estudar, tem um curso profissional, formada em apoio domiciliário e trata de idosos diariamente. Tarefa pesada, em todos os sentidos, que suga energia. Mas ela, ainda com o sentimento de culpa, de eu mereço tudo o que me aconteceu, dá tudo por eles, alguns morrem-lhe nas mãos e ela sofre. Vê isso como um castigo seu merecido. Mas o amor que eles lhe dão e que ela lhes dá, incondicionalmente, que a deixa de rastos, é uma recompensa que ela absorve e goza. Eles precisam dela, mas ela também precisa deles. É uma forma de amar.

São poucas as certezas que tenho na vida. O que já não é mau. Mas uma tenho: certeza sobre estas coisas? Só se o mundo fosse perfeito...
Então, porquê o SIM? Porque ninguém merece ser mutilado, marcado, destruído, sem ajuda competente, sem conhecimentos básicos como educação sexual à séria, sem os pais falarem com os filhos, sendo o sexo tabu de tal maneira, que mesmo as minhas amigas que se julgam mais para à frente, ousam falar. Que horror, sexo. E num mundo em que se faz a divulgação e promoção do sexo, em tudo, tudo, até no Canal Panda! Porque é que eu quero que os meus filhos vejam a Sharika ou Carica ou Catita a abanar a bunda?! Ou uns "saloios" a fazerem sexo em directo em horário nobre para toda a família? Ou ler no jornal que uma mãe está preocupada que a sua filha não faça sexo no programa? Ou gajas fúteis a dizer que o sonho de qualquer mulher é aparecer na capa de uma revista, nua ou descascada? Revistas que hoje, tal como a mulher tem a Casa Cláudia na mesa da sala, o homem põe a sua MaxMen ou Maxim ou whatever that shit is?! Que mundo é este? As pessoas gozarem porque X é virgem?

Orgulhosamente digo, perdi a virgindade aos 23 com o Rodrigo, meu marido, após meses de côrte... E ainda houve quem perguntasse se iria de branco no casamento? Até poderia ter ido de dourado! O que é que têm a ver com isso? Não é isso que fará resultar o meu casamento. E digo aqui, ao mundo, estou em maré de despejar, casados estamos nós desde 2004, numa aldeia remota, no Piódão, num local cheio de significado e de paz, estávamos os dois de preto e banco, sem testemunhas e trocámos relógios! Só nós... Somos casados literalmente duas vezes e sabe tão bem. E se a vida nos permitir, repetimos a façanha. E a próxima cor...esperem e vejam...
E essa 3º, 4ª vez, terá tanto significado como teve a1ª e a ª2. Na 1ª, tinha que ser só os dois, a vida negava o nosso direito de casarmos, another long story e assim que se tornou possível, partimos. Lá está, mas porquê que outros decidem se podemos ou não casar? Portanto foi algo só nosso, que resolvemos, mais tarde e na altura certa ampliar, pois sem muitos de vocês, amigos e família, o 1º nunca teria acontecido.

O de 2005, foi muito forte. Mas, uma vez mais, foi à nossa maneira. E a cerimónia, foi linda. Os meus 8 padrinhos que tanto criticam e acham um exagero, serão sempre os meus padrinhos. Porquê? São a minha família nuclear... os meus irmãos, os meus "encarregados de educação", são aqueles que, no matter what, irão estar sempre na minha vida e em mim. Sem eles, as lágrimas que inevitalmente jorraram de mim, nunca teriam parado. Lá está o tal misto de amor, alegria e dor. É assim a vida...um labirinto caminhos confusos, caminhos mais acertados, mas sem un guia ou instrutor omnipresente. Pelo menos, quando acordo todos os dias, é a mim quem eu vejo e quem comigo está, porque me quer, realmente ver. Não quero imaginar acordar, tocar no outro lado da cama e sentir um vazio. Mas também não quero acordar, ver-me, mas distorcida no espelho e tocar numa pessoa do outro lado da cama, sentir frio e fugir para o meu lado e encolher-me, esperando que um dia, dali venha algum calor. Porque para mim, ou vem sempre ou então, alguém tem que quebrar as cordas que lhes amordaçam...e gritar, respirar fundo e recomeçar a viver. Acabar com essas duas solidões que se juntaram uma à outra, por hábito, porque é a evolução natural ou porque não conseguimos estar sozinhos, porque é o que a sociedade nos diz. Não podes estar sozinho. Porque se sozinho, vais conhecer o teu verdadeiro e não sabes se tens forças para continuar... Mas muita coisa conseguimos nós sozinhos. Acreditem. Dêem-se ao luxo de ser verdadeiramente felizes, será sempre o meu desejo para todos vós...e para mim.

É comprido, eu sei. Mas... :-) E sim, size matters... :-)

p.s - Não sei se isto se diz, obrigado por me "ouvirem", por dizerem de forma franca o que vos apetecer, só assim é que nos vamos conhecendo: abertamente. E não pensem que a minha vida é triste ou foi triste. Se estou cá, é porque consegui ser resiliente e encontrei sempre maneiras de não ir ao fundo ou de ir ao fundo e subir. E uma delas, foi ter a certeza que o maior objectivo da mimha vida, é ser feliz, genuinamente, sem cedências, sem jogos, sem aturar isto ou aquilo, sem ignorar isto e aquilo, sem ter que mendigar por amor. Quando há amor, há complementariedade, há um encaixe, completa-se o quadro. Não se tiram ou escondem partes. Não há bagagem no porão: está toda nas nossas mãos, no nosso colo. E não se entra e sai da vida uns dos outros, como se saísse do Metro. Se se sai, foi porque nunca se entrou realmente. São os penduras da vida...

Tenho sono...até mais

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Tocou-me bastante este teu texto.
Eu votei sim para situações como as que falaste puderem ser evitadas. Acho ridiculo a hipocrisia em que se vive. E se alguém opta por fazer um aborto é porque de certeza tem razões bastante fortes. Eu própria recentemente fiz uma opção. Optei por ter a bébé, mas se optasse por não a ter era uma opção minha, ninguém tinha nada a ver com isso.
E não estou nada arrependida de ter tido a Teresa, apesar de sózinha ser tudo mais dificil. Mas tenho-a a ela o que me dá toda a força do mundo. Mas compreendo que outras mulheres na minha situação tomem decisões diferentes. Eu tenho uma coisa muito importante q é o apoio familiar. Se não o tivesse talvez não tivesse tomado a mesma opção. Cada um sabe de si e acredita que não acontece só aos outros.

10:46 da tarde  
Blogger Tokitoka said...

tu também me tocas muito. Acho que afinal, não são só os bébés que crescem de repente, como se dessem pulos. Nós também. E eu acredito que, se tivermos força, esses pulos dão-se, com intervalos diferentes, maiores, menores, mas sem dúvida, inesperados mas agradáveis.

10:03 da manhã  

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