sábado, maio 12, 2007

31...

o número de crianças desaparecidas em Portugal, em 2006. Quantos helicópteros sobrevoaram o país à procura delas? Quantas hélices ouviram? Nenhuma. Não se escutou nada por estas bandas.

Em 2001, a minha sobrinha desapareceu durante 4 meses. Quantas equipas de polícia a procuraram? Nenhuma. A PJ? Não teve conhecimento do caso, pois a PSP nada fez. Encontrei-a, EU, com a ajuda de um professor da faculdade, com a pressão da PJ (depois de eu lá ter ido pedir ajuda),junto da PSP. No dia em que a encontraram, estavam os polícias dos 3 turnos do dia e os que estavam de folga...

O que é que eu quero dizer com isto? Que, um destes dias, sei que vou contar os meus amigos pelos dedos e de uma mão só. Não tenho paciência para certas coisas e uma delas é a falta de "solidariedade" na sua essência. O ir junto com a "massa", com a multidão, com a carneirada e de acordo com o que a TV escolhe para ser o "prato do dia". Neste caso, é uma criança indefesa, uns pais desorientados e notícias para duas semanas. Basta um clique, uma ligação à net, um comando de TV, um telemóvel e "temos actos de solidariedade". Há realmente um sentimento de "pena", de sofrimento em massa, ou é a altura de mostrarmos à sociedade que somos humanos? São dias "oficiais" para as pessoas provarem a sua humanidade...Picar o ponto.

E as "resmas" delas, de crianças que desaparecem e/ou são mortas, brutalizadas e violentadas, pelo mundo fora? A tragédia em África? Está "muito escuro" para esses lados. É normal que não se saiba ou veja nada... :-)

As 31 Portuguesas, que é feito dessas crianças? Quem quer saber do João, do Ruben, da Maria, da Soraia... Quem?!

Estava a ler o Público, lia a coluna do Júdice e pensei, fogo, estava a precisar de desabafar! Tal como ele diz, muitas vezes se cala, porque ter inimigos não é bom e dispensa os enfartes por estes causados. Eu estou nesse caminho, dos inimigos, mas já comecei a pensar que não quero morrer precocemente, por ter discussões idiotas com gente hipócrita, insensível, fingida, que seguem que nem zombies as modas. Voluntariado com animais, mails a pedir auxílio e acolhimento para gatinhos, aos montes. E mails a pedirem 1 euro que seja, para contribuir para uma vacina para uma criança, algures perdida no mundo?

Alguém disse, "são mais relaxados que nós", os estrangeiros. Dois pais médicos e deixam os seus filhos sozinhos? Nem comento. Maior será a sua tormenta, qualquer comentário é ineficaz e cruel. Não quero "atirar nenhuma pedra".

A criança? É inominável. Receio que ao dizer o seu nome, esta o "escute" e pense que a "salvação" está a caminho.

Não consigo conjecturar sobre o seu presente ou futuro. Não me é permitido. Vai comigo para a cama, contudo. Não prometo que só irei pensar nela. Sei que vou pensar em várias, e todas elas terão nomes diferentes, caras diferentes, mas o facto de todas serem crianças, qualquer uma delas, representará as outras. Sofrendo por uma, sofro pelas outras. Deveria decorar a cara dela,questiono-me? Mas são tantas e os seus traços misturam-se. O "eco" dos seus sofrimentos, é que é inconfundível. Hipnotiza-me. Mas sei que se conseguir "silenciar", acalmar, o rasgar de sofrimento de pelo menos uma delas, se conseguir retirar o "esgar" que ameaça"colar-se" ao seu rosto, terei uma noite menos inquieta.

Durante 4 meses, com a Cátia desaparecida,morri. Dormir, comer, estudar, sair à rua, pensar, era uma tortura. E, digo-vos, a mancha que fez, na altura, não sai. Uma radiografia e estará lá para sempre, o seu contorno. Nunca cheguei a ligar para hospitais, com medo de ouvir algo que temesse. Quantas pessoas, mails, ou telefonemas recebi?
(In)Felizmente, veni, vidi, vinci. Parola a escolha da frase, mas é um pouco assim, a vida. Sofri, porra e muito. E pensam que dá gozo passar por isto? E muito estará a sofrer aquela criança e muito estarão a sofrer os pais das 31 crianças Portuguesas ou dos milhares de crianças que morrem estupidamente, devido à ganância e "desumanidade" das pessoas no geral ou devido a guerras religiosas, políticas, etc. Todos os dias morrem crianças no Iraque. Estão preocupados? Ou é nesta altura do noticiário que aproveitam para fazer um "chichizinho"?

Já experimentaram doar dinheiro à Unicef ou outras organizações humanitárias (e não me venham dizer que são todas ilícitas!)? Já experimentaram fazer voluntariado com crianças abandonadas, crianças em bairros excluídos, denunciar casos de maus tratos de pessoas que conheçam ou de quem tenham conhecimento? Dá muito trabalho, não é? É mais fácil fazer forward dos mails que chegam! É sempre a abrir! A quantidade de dinheiro que já foi "doada" por diferentes macacos, já dava para comprar vacinas para milhares de crianças.

Costumo dizer que não trocava a minha vida por nada deste mundo. E que vida. Não sou nenhuma vítima, pois tenho conseguido ir levando a minha vida. Tem os seus pontos bons e menos bons, como a vida de todos. O futuro, sei lá. O que estou a fazer, dentro das minhas possibilidades, sei e bem.

Mas, uma coisa a minha vida me proporcionou e dela, "perversamente", me orgulho (ou seja, lido com esta parte e mais nada): sentir as coisas na pele. E não cair no erro de, consciente ou sub-conscientemente, ridicularizar a vida e jogar ao faz-de-conta.

A realidade é só uma, neste caso: o truque é - "imagine que era você?" - somos bombardeados com as coisas que, supostamente interessa, ou seja, que vendem, que dão lucro e somos todos "convertidos" num ápice. A pessoa mais fria e distante, mais comodista, que mais repúdio sente pelas pessoas( por ser pessoa, por sentir-se vulnerável perante os outros), mostra-se sensível, "tocada". Sente-se um pequeno estalido, é a superfície do verniz que as cobre. No entanto, daqui por um tempito, já se está noutra. E a camada de verniz, impecável.

Tenho um coração de pedra, dirão alguns de vocês. Sou arrogante, opiniosa, presumida, arrogante, magoo,melindro. Serei, isso tudo? Talvez... Se isso significar que repudio o que, para mim, serão "momentos polaroid de uma humanidade fast-food e cheia de cosmética"? Então sim, sou uma besta. Palmadinhas nas costas, só para remover pedaços de comida "encravados" na traqueia de terceiros...

São quase 3 da manhã e passei a semana toda a pensar noutra criança que não a dos media ou internet ou conversas de elevador. Também não sei o seu presente, nem futuro. E também temo o seu desaparecimento ou potencial caminhada para a invisibilidade. Vou dormir. Eles chamam por mim.

4 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Faço minhas essas palavras. Sobre pessoas e o seu comportamento vai um vídeo:
www.youtube.com/watch?v=VXwarrIYLJ4
Cumprimentos,
J

3:38 da manhã  
Blogger Tokitoka said...

J: vi o vídeo. Acho que o que há para "dizer", se é que há algo a dizer, está lá. Quem me dera ser tão "concisa", por vezes. Obrigada

Estava a "Passar" pelo Jornal da 2 ou da 1, não sei ao certo,hoje, e vi o Cavaco Silva e o Scolari,por esta ordem, a darem uma entrevista sobre o caso da criança - Cavaco transmitia à Polícia Inglesa que a Portuguesa é muito competente e Scolari dizia que, sendo 13 de Maio, se os pais tiverem fé, tudo correrá bem.

Se não estivesse neste mundo há 31 anos, ou se fosse um e.t e tivesse chegado agora mesmo, será que pensaria: "Hum...devem ser estes os líderes deste "planeta" ou "Note to Self - have Faith".

"The truth is out there"

1:48 da tarde  
Blogger eloi said...

Excluíndo o drama humano q é este caso - se possível - o que mais me perturba é a suprema arrogância dos media britânicos!... arre q só me apetece ir ao Algarve acompanhado do Hipólito (consideremos o Hipólito um robusto taco de baseball!) "lidar" com esses pseudo-jornalistas!! ;)

3:24 da tarde  
Blogger Tokitoka said...

Uma questão muito importante aqui, é a política e negócios no meio disto. Algarve, um dos destinos preferidos dos ingleses... O que é que está a acontecer: marcações de grupos canceladas, marcações individuais canceladas. Este Verão, o Algarve irá sofrer uma baixa no turismo estrangeiro. Por isso o aparato dos media cá e de lá, sendo que lá, trata-se de "bater no ceguinho". Eu costumo ver a Sky news e se há sítio com desaparecimentos de crianças constantemente, é no Reino Unido... Assim, desviam-se as atenções de lá, sobre o que se passa internamente, tal como cá. Enfim. Já é hora de tirar isso da TV, quem for solidário continuará a pensar na criança e as autoridades que continuem a agir. Passado tanto tempo...a miúda...

3:57 da tarde  

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